sábado, 4 de fevereiro de 2017

Quando eu era criança
Você era o monstro
Assustador, mas distante
Nesse mundo tão tronxo

Nos meus sonhos você
Nem mesmo tinha rosto
Se escondia na noite
E me deixava com nojo

Dizia a mim mesma
Que se fosse comigo
Minha vida tiraria
Não viveria com isso

Qual foi minha surpresa
Tive de crescer
E encarar que o problema
Vai além do que se vê

O monstro estava lá
Dentro de casa
Nas ruas, nas escolas
Debaixo das escadas

De monstro nada tinha
Era o homem comum
Bonito ou feio, rico
Ou sem tostão nenhum

Na rua assobia
E me chama de nomes
Gesticula horrores
E com os olhos me come

Qualquer uma de mim
Pode ser atacada
Ter o corpo ferido
E a alma roubada

E pra piorar
Esse show de horrores
A sociedade
Questiona minhas dores

A justiça permite
Sou puta e culpada
Sou objeto de desejo
E posso ser tomada

Se voce é um homem
Que diz "não sou assim"
Isso não é sobre você
Isso é sobre mim

Perceba também
Isso não é um favor
Você nunca, jamais
Vai entender meu pavor

Eu não quero matar
Homem nenhum
Eu quero é castrar
O seu senso comum

Nao adianta vingança
Eu quero o expurgo
Eu quero o fim
Da cultura do estupro.


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