domingo, 6 de dezembro de 2009

Falsa Perfeição

Aquele lugar estava isento de pecados. As pessoas eram completamente altruístas e o amor ao próximo estava acima de tudo. Os pobres não reclamavam de suas condições e todos conviviam em perfeita harmonia. Se a criança chorava a noite inteira, cuidar dela era uma obrigação, e não haviam queixas sobre tal. Se alguém esbarrara-se contra você na rua, um pedido de desculpas era perfeitamente aceito, e os sorrisos não saíam de seus rostos. Ninguém passava por cima de ninguém, e todos eram felizes.

Todos eram felizes. Felizes. Felizes. Felizes...

O sorriso em seus rostos era como uma careta que não se desfaz. O coração daquelas pessoas assustadoramente sorridentes era escuro e sombrio, invisível aos olhos. A verdade dentro daqueles corações era rígida e reprimida.

Na feira, alguém gritou. Um homem corria incessantemente, com algumas frutas nas mãos. Não queria passar mais fome. No quarto daquele casal perfeito, o bebê chorou. E chorou ainda mais quando sua mãe lhe deu um tapa na face rechonchuda. O homem com as frutas esbarrara-se fortemente contra um senhor na rua, e não teve tempo para desculpar-se. O senhor virou-se em sua direção e apertou os punhos. Naquela noite, o ladrão de frutas seria agredido seriamente pelo senhor. E o melhor amigo do senhor informaria a todos o que ele havia feito, ganhando assim fama de benfeitor.

As faces sorridentes tornaram-se rostos sem expressão e o ódio era claramente visto em seus olhos. A verdade veio à tona, os desejos pecaminosos se libertaram. Os sorrisos forçados sumiram por completo.

Todos eram humanos. Humanos. Humanos. Humanos...