segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Jogo da Vida

Era uma vez cinco meninas. Eu, você, ela, aquela e outra.
Elas tinham de atravessar um caminho esburacado da floresta até um ponto de chegada.
Você caiu duas vezes no caminho, machucando um pouco as mãos e bastante um joelho, sendo a segunda a chegar.
Ela caiu seis vezes, se arranhando toda, mas só superficialmente, chegando em terceiro.
Aquela não caiu nenhuma vez, mas perdeu o fôlego e foi a última a chegar.
Outra bateu a cabeça num galho e desmaiou, mas acordou pouco depois e conseguiu chegar em quarto.
Eu caí inúmeras vezes, fiquei presa em arbustos, fui atacada por abelhas, me perdi, pisei em uma farpa e torci o pé, mas cheguei em primeiro.
Quando as outras garotas chegaram e me viram, chorando de dor completamente só, me deram os parabéns. Eu continuei a chorar.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Pequenas Coisas

Eu gosto do silêncio
da manhã
e de uma ampola de
diazepam

Eu gosto de me
sentir sã
e de um pouco de
alprazolam

Eu gosto de
jogar serpentina
e da minha dose diária de
paroxetina

Eu gosto de ser
gentil
E de enormes quantidades de
rivotril.

Medo

Eu sempre gostei de uma boa dose de adrenalina. Montanhas-russas, os filmes de terror mais bizarros, surpresas, desafios, psicotrópicos, aventuras, um coração partido.
Tudo isso dá um gosto artificial de ansiedade, sem um perigo real à vista.

Hoje, tudo isso ainda me atrai. Mas me dá taquicardia. Hiperventilação. Angústia. Ataque de pânico.
Eu não consigo mais fazer o que um dia amei. Porque tenho medo. Porque agora existe um perigo real. E eu não sei enfrentá-lo.