domingo, 2 de outubro de 2016

Festa

Quem me vê
dançando na festa
Nem imagina
o quão triste sou

Quem me vê
chegando de cara
sempre erguida
Nem sonha que eu

Me importo demais
com tudo que dizem
E digo ir ao banheiro
Pra chorar

Acho que ninguém
gosta de mim
E que sou nada
Além de um incômodo

Vou embora
sem me despedir
Certa de que não
pertenço a lugar algum.

sábado, 24 de setembro de 2016

Enevoada

Na sala meu pai
assiste pornografia
Na tela grande, como
um programa qualquer

Minha mãe dorme
O sono da conformidade
Do cansaço, sim, mas
Também da submissão

Lá fora aquele que
chamo de meu
Vive como se nada
jamais o abalasse

As duras palavras
O desdém e o tom
de voz imponente
Foram deixados para lá

No quarto eu
me sinto quebrada
Os olhos inchados
de tanto chorar

Ninguém se importa
porque pra eles
existem problemas
maiores e mais graves

Não é o suficiente
sentir-se triste, não
saber o porquê
e nada conseguir fazer?

Eu sonho com o dia
que vou largar de ser
covarde, e finalmente
vou pôr um fim em tudo

Vou escrever uma carta
(ou talvez não escreva nada)
Vou passar a navalha e
afundar os pulsos em água morna

Vou observar o degradê
do incolor ao escarlate
Vou sorrir serenamente
enquanto adormeço.

Desamparo

“Mas por que você tá triste se...?”

“Todo mundo tem problemas”

“Você não é especial”

“Você tem que tentar melhorar”

“Você quer que todo mundo faça o que você quer”

“Você não sabe se controlar”

“Por que você tá chorando?”

“Você chora por tudo”

“Você gosta de sofrer”


sábado, 17 de setembro de 2016

(in)existência

Passo a semana
a empurrar com a
barriga problemas que
são emergenciais

Digo a mim mesma
que aquela agonia
vai ser compensada
pela diversão por vir

Crio planos para
o fim de semana
Me empolgo para
esquecer preocupações

Chega o dia e não
descanso o suficiente
Chega a noite e não
me sinto diferente

Chego ao local e
fantasio com a saída
Falo com pessoas e
quero que o assunto acabe

Se me sinto bonita
preciso de uma foto
para receber virtual
aprovação sem valor

Se me sinto triste
preciso escrever
um poema que cause
empatia e admiração

No fim das contas
não faz diferença
Porque continuo
a me sentir vazia.


domingo, 26 de junho de 2016

Solo

Hoje eu venci uma crise de ansiedade.
Sozinha.
Chorei durante todo o tempo.
Senti minhas mãos formigarem. Meu olhar dispersou. Minhas pernas, quadris, mãos: tudo tremia.
Tomei um remédio.
Pensei em te ligar.
Não me permiti.
Pulei para tentar expelir a descarga de adrenalina.
Meu coração quase saiu do peito.
Pensei em te ligar.
Cogitei, ponderei, decidi que sim, aí lembrei das suas palavras.
Resolvi lutar, mas a lembrança piorou a tremedeira.
Tomei outro remédio.
Me olhei no espelho, o cabelo bagunçado e o rosto manchado de lágrimas.
Disse a mim mesma que estava tudo bem. Tudo sob controle.
Deitei.
Comecei a escrever.
Recomecei a tremer.
Quero te ligar.
Mas você me mandou ser louca em outro lugar.
Eu sou louca sim.
E vou continuar sendo.
Assim como continuo tremendo.
A quem engano?
Não venci coisa nenhuma.
Ainda quero te ligar.
Mas decidi.
Vou ser louca sozinha.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Nó na Garganta

Eu não consigo escrever.
As palavras soam todas erradas. Não consigo organizar os pensamentos. Me canso, me frustro, me decepciono comigo mesma antes mesmo de terminar o primeiro parágrafo.

Meu coração vazio não me permite fazer aquilo que por tanto tempo foi o meu único remédio. Agora, com licença, vou tomar minhas pílulas.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Melodia

Não consigo ouvir Chico
Sem lembrar do seu sorriso
Não posso ouvir Caetano
Sem pensar nos seus encantos
Não dá pra ouvir Alceu Valença
Sem sentir a sua presença
Não consigo ouvir Criolo
Sem querer o seu consolo
Não suporto ouvir Tim Maia,
Novos Baianos, Emicida ou Nação Zumbi
Até que você volte pra perto de mim.

Quadro

Hoje canalizei toda a dor
para os pincéis
Tentei recriar a cor
de cada parte sua

Misturei diversas tintas
para reproduzir sua pele
Tons de rosa foram mais de trinta
para colorir seus lábios

Desenhei cada pêlo da sua barba
e cada cílio dos seus olhos
Não foi das tarefas mais árduas
pois seu rosto não sai da minha mente

Acabei e fiquei orgulhosa
Do amor que derramei na tela
Mas logo fiquei chorosa
porque não diminui a saudade.