domingo, 3 de janeiro de 2010

A Bela Decepcionada

O cabelo estava perfeitamente arrumado, o vestido consideravelmente curto lhe dava um ar mais feminino que o comum, a sombra de cor exótica marcava seu rosto fino.
Estava linda. Sentia-se linda.

Sorriu para seu reflexo no espelho e pensou que aquela noite seria maravilhosa. Pegou a pequena bolsa prateada em cima da cama e seguiu para a porta, desceu pelo elevador e entrou no carro. Dirigiu-se para seu destino e desceu do carro, pondo aquele pé sobre um salto médio na calçada e impulsionando-se para levantar-se. Fechou a porta do carro e olhou as pessoas que adentravam o estabelecimento em seus trajes sociais. Caminhou para a entrada e sentiu alguns olhares sobre si. Estava linda. Sentia-se linda.

Pronunciou seu próprio nome para o homem que segurava a lista de convidados e desceu as escadas que a levavam para o salão principal. Estava cheio de mesas perfeitamente cobertas por toalhas de seda e cheio de pessoas conversando de forma polida – ou não. Sentiu mais alguns olhares sobre si enquanto caminhava em busca de uma mesa vazia e sorriu. Estava linda. Sentia-se linda.
Sentou-se sozinha em uma mesa próxima ao fim do salão. Aceitou a bebida que o garçom ofereceu-lhe. Bebericou-a e pousou a taça na mesa. Sorria e observava as pessoas. Alguém olhava de soslaio de vez em quando e ela sorria um pouco mais. Estava linda. Sentia-se linda.

A hora avançou consideravelmente e ela continuava sozinha na mesa. Seu sorriso havia sumido. Alguns já haviam ido embora e ninguém havia se aproximado. Alguns conhecidos cumprimentaram-na, apenas. Os olhares não eram pra ela, afinal? Aquela empolgação toda era só dela? A bela mulher que vira refletida no espelho não estava tão bela assim? Estava cabisbaixa. Sentia-se idiota.
Levantou-se de sua mesa e passou por todas aquelas pessoas olhando para o chão. Correu para o banheiro e olhou-se no espelho mais uma vez. Continuava linda, mas sua expressão era de puro desgosto. Estava linda. Sentia-se sem graça.

Tão sem graça.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Ano Novo, Sentimento Velho

Ouvia o som dos fogos explodindo no céu azul marinho, quase negro. Virou o rosto em direção à luz e viu aquelas cores brilhantes se espalharem pela escuridão acima de sua cabeça. Estava sentada na areia, sujando a roupa sem se importar. Sentia a cabeça rodar e uma estranha solidão. Estavam todos ali, mas estavam todos distantes. Dividiam-se em casais, com ou sem compromisso, compartilhando suas carências de ano novo. E ela estava acompanhada pelo som do mar e sendo tocada apenas pela areia. A embriaguez intensificava a sensação de solidão, mas ao mesmo tempo tornava-a vaga. Ela não conseguia focar-se no que estava sentindo, mas sentia-o com força. Queria alguém sentado ao seu lado, nem que fosse para recostar a cabeça e olhar os fogos coloridos sentindo algum calor humano em si. Fumava um cigarro, mesmo sem gostar, por achar bela a fumaça que soltava pela boca.

– Feliz Ano Novo – murmurou sozinha. Deu mais um trago no cigarro e jogou-o fora. Observou aquela luz alaranjada do cigarro ainda aceso caído na areia e lambeu os lábios. E então, um garoto de camisa branca se aproximou.

– Tá noiada, é? – perguntou, em tom de riso. A garota levantou a cabeça e sorriu, apertando os olhos. – Levante daí – ordenou o garoto. A garota fez cara de desânimo. – Vamo logo, levante de uma vez. – disse, estendendo a mão para ajudar a garota a levantar-se. Ela olhou para a mão estendida, relutante. Então, segurou-a. Tomou impulso e se levantou. Tirou o excesso de areia grudada na roupa e tornou a olhar para o garoto, aparentemente desnorteada. O garoto balançou a cabeça em tom de desaprovação e, então, puxou-a pelo pulso, seguindo para onde o pessoal com quem estavam ia. E a garota deixou-se ser guiada, apenas pelo toque de algo real e o preenchimento da sensação de vazio e exclusão. Aquilo podia não significar nada, mas não estava só, afinal.