sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Sentimento Literário

O que a gente sente
Depois eu te conto
Depois você me fábula
Depois a gente romance.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Doce Esquisitisse

Ela estava sentada na carteira do fundo da sala, perdida em devaneios inúteis. A aula corria e praticamente todos os alunos prestavam atenção. Era uma matéria importante, afinal. Mas a mente dela estava perdida em uma floresta de sentimentos e pensamentos: o que faria no fim de semana, o que comeria no almoço, como passaria de ano, aquela foto engraçada, aquelas mãos entrelaçadas, o exercício que não fez, o livro que queria escrever e a música que só sabia o refrão. Cantarolava sem perceber, e desenhava olhos na mesa. Ria sozinha de suas lembranças e ignorava todo o resto.
Acordara por um momento, pegando no ar uma discussão de ocorria. Viu aqueles seres tão iguais, opinando a mesmíssima coisa, sem nenhuma profundidade real. E sorriu. Um sorriso suave e superior. Um sorriso leve e pintado de certo desprezo irônico.
Olhou pelo vidro da porta e admirou as folhas verdes que balançavam, entreabrindo os lábios, como uma pequena criança observado um objeto colorido e chacoalhante. E dessa vez sorriu de forma boba, provavelmente lembrando de algo doce. E lá estava ela, sentada, perdida em sua própria mente; estranha, anormal, feliz.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Fazendo um bom proveito

Dedico este conto a Karoline Paiva, vulgo Kekinha. :D


A escuridão já havia tomado conta da cidade, e ela ainda estava sentada naquela mesma cadeira, segurando sua lapiseira, gastando grafite, resolvendo cálculos matemáticos. Acima de sua cabeça havia uma estante, cheia de livros paradidáticos perfeitamente organizados. O quarto todo era organizado e arrumado, mas tão sem vida; sem personalidade.
Lara parou de estudar às 19h para jantar, e voltou a estudar em seguida. Foi dormir às 22h, logo após organizar seus materiais escolares.
A rotina de Lara repetia-se dia após dia, durante todos os seus anos escolares. Sempre estudando em excesso, tirando notas altas em consequência de grande esforço e abdicando de sua vida social. Era uma certinha nata, nunca fizera nada de errado ou excitante. Fora certa vez a uma festa, mas se sentiu deslocada e cercada de vagabundos irresponsáveis.
Desde que Lara entrou no ensino médio, sua vida se voltou para o vestibular. Não fazia nada além de estudar. Sua meta era entrar no curso de medicina. Não que fosse seu sonho ou que tivesse afinidade, mas era o que dava dinheiro, era o que todo mundo dizia ser bom, então ela faria.
Havia uma garota na classe de Lara que a irritava. Tirava notas baixas, mas não ligava. Tinha um argumento incrível, mas não se esforçava para expressá-lo. Ela precisava de horas no espelho, treinando falas que parecessem intelectuais, mas aquela garota... aquela vagabunda irresponsável. “Não vai ser ninguém na vida” pensava.
Faltavam apenas duas semanas para o vestibular, e Lara não media mais horários de estudo. Toda hora era hora de estudar. Estudou, estudou, estudou. Sua vida dependia disso, na sua concepção. Odiava todas aquelas matérias, não era inteligente, mas se esforçaria até criar calos mentais para conseguir. Para ser alguém na vida.
Finalmente, chegou o dia do vestibular. Lara terminara de estudar às 21h no dia anterior, para conseguir dormir bem. Não conseguiu. Virou de um lado para o outro na cama e acordou cedo demais. Resolveu revisar todo o assunto até a hora de sair.
A mente de Lara estava completamente ocupada pelo vestibular. Enquanto caminhava em direção ao local da prova, relembrava todos os nomes complicados de Biologia e todas as fórmulas de Física. Estava tão concentrada nisso que, ao atravessar a faixa de pedestre, teve tempo apenas de vislumbrar o carro que se chocou fortemente contra ela, antes de cair no chão e sua visão escurecer. Logo, seu raciocínio parou. Logo, seu coração também parou. O sangue escorria pelo asfalto, e pessoas observavam com espanto.

Pobre garota.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Marie no País das Maravilhas

– Quer um doce, garota? – foi a última coisa que Marie ouviu antes daquele mundo colorido e abstrato surgir diante dos seus olhos. As cores tão vívidas materializadas em pessoas que derretiam; pessoas que olhavam-na de soslaio. Alguém – ou melhor, algo – se esbarrara nela, e seu corpo produziu tal formigamento desesperador, fazendo com que ela se abraçasse assustada, alisando os braços como se sentisse frio. Os olhares continuavam sobre ela: era o centro das atenções.
Marie olhava para os lados freneticamente, sentindo uma paranóia brotar em si, suspeitando de todos ao redor.

Já amanhecia quando Marie saiu daquele local, e o sol parecia um enorme cometa vindo em sua direção. A música amplificada ecoava dentro de sua cabeça, quase fazendo seu corpo vibrar. Caminhava perdida por aquelas ruas maravilhosas, onde ônibus voavam e pessoas flutuavam momentaneamente a cada passo dado. Enquanto caminhava, avistou um canteiro de flores que dançavam e quis rir.

Depois de vagar por estas ruas iverossímeis, parou em frente a um prédio de formas geométricas variadas, que parecia meio inclinado. Adentrou o local e prostou-se no interior de uma caixa de metal gélido, e flutuou em movimento uniforme, sentindo o ar congelante tocar sua pele como neve. Ao sair da caixa, chutou um objeto estranho e, deste, uma tsunami surgiu, parecendo inundar tudo. Suas pernas pesavam pela água que molhava sua calça, e então ela atravessou uma porta. Chegou em um lugar que brilhava como um diamante, de um branco que cegava seus olhos. Cambaleou até um objeto cheio de insetos que se moviam incessantemente e caiu, adormecida.

Cinco horas mais tarde, Marie acordou com grande desespero. Os insetos ainda estavam lá, e ela não aguentava mais. Foi até a janela e projetou o corpo para fora. Aquele mundo colorido e abstrato estava lá, piscando e se movendo. Mas, de repente, começou a parar. Como uma câmera que muda do vivid para o calm, as cores começaram a se tornar mais opacas, e as coisas estavam parando de flutuar. Finalmente sentiu os pés no chão, e os insetos voltaram a ser bolinhas pretas em um sofá branco. “Ah, graças a Deus” pensou. O efeito do LSD finalmente havia passado.