Quando eu era criança
Você era o monstro
Assustador, mas distante
Nesse mundo tão tronxo
Nos meus sonhos você
Nem mesmo tinha rosto
Se escondia na noite
E me deixava com nojo
Dizia a mim mesma
Que se fosse comigo
Minha vida tiraria
Não viveria com isso
Qual foi minha surpresa
Tive de crescer
E encarar que o problema
Vai além do que se vê
O monstro estava lá
Dentro de casa
Nas ruas, nas escolas
Debaixo das escadas
De monstro nada tinha
Era o homem comum
Bonito ou feio, rico
Ou sem tostão nenhum
Na rua assobia
E me chama de nomes
Gesticula horrores
E com os olhos me come
Qualquer uma de mim
Pode ser atacada
Ter o corpo ferido
E a alma roubada
E pra piorar
Esse show de horrores
A sociedade
Questiona minhas dores
A justiça permite
Sou puta e culpada
Sou objeto de desejo
E posso ser tomada
Se voce é um homem
Que diz "não sou assim"
Isso não é sobre você
Isso é sobre mim
Perceba também
Isso não é um favor
Você nunca, jamais
Vai entender meu pavor
Eu não quero matar
Homem nenhum
Eu quero é castrar
O seu senso comum
Nao adianta vingança
Eu quero o expurgo
Eu quero o fim
Da cultura do estupro.
sábado, 4 de fevereiro de 2017
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017
Eu cresci
brincando sozinha.
Inventando e
encenando
Narrativas só minhas
Desejando e me frustrando
Com uma realidade infeliz
Narrativas só minhas
Desejando e me frustrando
Com uma realidade infeliz
As outras
crianças sempre
Pareceram se encaixar
Enquanto eu parecia
Nunca encontrar o meu lugar
Pareceram se encaixar
Enquanto eu parecia
Nunca encontrar o meu lugar
Tanto peso
que carregava
Não sabia interagir
Sempre incompreendida
Mas nada podia exigir
Não sabia interagir
Sempre incompreendida
Mas nada podia exigir
Como
entenderiam?
Como me ajudariam?
Se os adultos ignoravam,
O que as crianças saberiam?
Como me ajudariam?
Se os adultos ignoravam,
O que as crianças saberiam?
Eu cresci
brincando sozinha.
As coisas que dizia
Causavam riso ou comoção
Minha mãe brigava
Me acusava de exposição
Como é que eu saberia
Que não podia contar
Sobre a dor que eu sentia
Com o cheiro de álcool no ar?
A mesma criança que sempre
Foi inteligente e criativa
Por causa do vício do pai
Chorava no banheiro escondida
As coisas que dizia
Causavam riso ou comoção
Minha mãe brigava
Me acusava de exposição
Como é que eu saberia
Que não podia contar
Sobre a dor que eu sentia
Com o cheiro de álcool no ar?
A mesma criança que sempre
Foi inteligente e criativa
Por causa do vício do pai
Chorava no banheiro escondida
Por causa da
submissão da mãe
Gritava por dentro até doer
Por causa da distância dos irmãos
A mente inocente não sabia o que fazer
Gritava por dentro até doer
Por causa da distância dos irmãos
A mente inocente não sabia o que fazer
Eu cresci
brincando sozinha.
Claro que
alguns amigos fiz
Mas sempre cansavam de mim
E, principalmente, eu também
Mas sempre cansavam de mim
E, principalmente, eu também
Me cansava deles
Era tudo
sempre igual
Fosse na escola ou em casa
Tentava fugir pra dentro de mim
Mas nem sempre funcionava
Fosse na escola ou em casa
Tentava fugir pra dentro de mim
Mas nem sempre funcionava
Tanta raiva
que sentia
E eu não podia evitar
Continuei a brincar sozinha
Esperando o mundo mudar.
E eu não podia evitar
Continuei a brincar sozinha
Esperando o mundo mudar.
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