A paisagem girava, puxando os olhos e o pescoço da pequena Olivia. Pequena para viver tal trauma, mas grande no acúmulo deste. Enquanto o mundo girava insistentemente, completamente fora do controle da garota, a estrada parecia uma corrente que seguia na direção contrária à do seu destino.
- Já estamos chegando! - dissera a voz. Sempre estavam chegando. Mas a giratória do seu pescoço não se importava. Ou talvez se importasse sim, e por isso girasse com mais força para compensar a proximidade do seu fim.
Olivia via cada detalhe do céu, mas sem apreciá-lo. Quem o apreciaria daquela forma?
No hospital, ninguém a ajudava a segurar o pescoço tensionado.
- A ficha dela já foi feita? - perguntou uma voz seca. Era aquilo que importava, certo? Confirmar o direito ao auxílio, não o auxílio em si.
O pescoço de Olivia doía como o inferno e, para piorar, o quarto tinha detalhes demais. Assim, seu olhar não conseguia se focar em um ponto e seguia virando para a esquerda.
Esquerda. Esquerda. Esquerda.
Vozes à esquerda. Mãos à esquerda. Cortinas à esquerda (e por todos os lados).
- É psicológico. O seu corpo não se mexe sozinho. - dissera novamente a voz seca.
Olivia chorou. Era muito dor, e agora descrença. Dor e descrença. Descaso.
Finalmente, comprimido.
Antes tarde do que nunca, injeção.
Esquerda. Meio. Esquerda.
Pernas agitadas. Tremor. Frio.
Morno. Meio. Músculos relaxados.
Olivia dormiu.
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