sábado, 24 de setembro de 2016

Enevoada

Na sala meu pai
assiste pornografia
Na tela grande, como
um programa qualquer

Minha mãe dorme
O sono da conformidade
Do cansaço, sim, mas
Também da submissão

Lá fora aquele que
chamo de meu
Vive como se nada
jamais o abalasse

As duras palavras
O desdém e o tom
de voz imponente
Foram deixados para lá

No quarto eu
me sinto quebrada
Os olhos inchados
de tanto chorar

Ninguém se importa
porque pra eles
existem problemas
maiores e mais graves

Não é o suficiente
sentir-se triste, não
saber o porquê
e nada conseguir fazer?

Eu sonho com o dia
que vou largar de ser
covarde, e finalmente
vou pôr um fim em tudo

Vou escrever uma carta
(ou talvez não escreva nada)
Vou passar a navalha e
afundar os pulsos em água morna

Vou observar o degradê
do incolor ao escarlate
Vou sorrir serenamente
enquanto adormeço.

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