quarta-feira, 15 de abril de 2009

Dores e Amores

Ele sentia a dor. Alan Lightman sentia uma dor profunda, como se mãos esmagassem seu coração. As mãos dela, talvez. Por quê?, se perguntava. Porque não podia ter uma felicidade contínua? E mais importante: por que não conseguia parar de se ferir, parar de se castigar ao fitar aquela foto e quase sentir o filete de sangue escorrer por seu coração despedaçado? Tinha sido um amor fatal. Provocante, apaixonado. Aqueles cabelos ruivos respingando no sofá, aquele sorriso torto tão sedutor que brotava de seus lábios à medida que aquelas mãos apertavam as suas. Aquele mero calor de suas mãos entrelaçadas... aquelas mãos que agora te feriam. Por quê? Por que lhe doía tanto se as lembranças eram tão boas? Era simples. Havia perdido tudo aquilo.
Aquela casa. O refúgio deles. Um local abandonado, apenas com uma janela a deixar-se penetrar pelo sol. Da janela, podia-se ver uma enorme árvore caída, tão morta. Mas eles estavam vivos. Aquela chama estava viva e forte. Agora ela o queimava. Lembrava-se da noite que passaram no topo de uma montanha, tendo apenas um ao outro. O vento batia em seus rostos e fazia esvoaçar aqueles cabelos ruivos. Era noite de lua-cheia, mas ela era o seu sol.
Alan saiu por um momento de seus devaneios, percebendo-se no banheiro do estúdio, com uma torneira já a algum tempo aberta. Fechou-a e fitou seu reflexo no espelho. Fitou aquele rosto cansado. Não podia continuar assim. Precisava seguir em frente.
- Eu te amo, Alan - dissera ela certa vez. O calor daquelas palavras o fez acordar. Prescisava viver, prescisava seguir. Mesmo que ela nunca mais estivesse ali, aquelas palavras existiram e, pensando agora, isso bastava. Mesmo que ela tivesse sido o seu sol, no universo existem milhões de estrelas.